A The Document Foundation, responsável pelo pacote de produtividade LibreOffice, publicou uma nota onde critica a Microsoft pelo que considera ser a adoção de formatos de documentos “artificialmente complexos” no serviço Microsoft 365, estratégia que, segundo a organização, dificulta a interoperabilidade e mantém os utilizadores dependentes da solução da empresa norte-americana.
Enquanto alternativa de código aberto, o LibreOffice utiliza o XML Schema definido pelo W3C e o padrão XSD, métodos que permitem a leitura e gravação de ficheiros também compatíveis com o Office. A fundação argumenta que esta abordagem garante interoperabilidade entre diferentes aplicações e evita a criação de “silos” proprietários de informação.
De acordo com o comunicado, a Microsoft estaria a desvirtuar o mesmo XML Schema através da introdução de camadas adicionais de abstração, múltiplos elementos redundantes e nomenclaturas pouco intuitivas. Essa complexidade tornaria o processamento automático dos documentos mais oneroso para soluções concorrentes, criando um obstáculo técnico que, na prática, desencoraja a adoção de software alternativo.
Elementos técnicos apontados como barreiras
Entre os indícios enumerados pela The Document Foundation contam-se etiquetas envoltas em várias hierarquias, utilização extensiva de “wildcards” (elementos com significados múltiplos), pontos de extensão sobrepostos, importação de namespaces em cascata e documentação escassa ou de difícil acesso. Na avaliação da entidade, salvo a questão da documentação, a Microsoft aplicaria todos estes mecanismos no XML Schema usado pelo Microsoft 365, em níveis variáveis de intensidade.
A fundação recorre a uma metáfora ferroviária para ilustrar a situação: embora a linha de comboio possa, em teoria, ser usada por qualquer operador, o sistema de controlo foi concebido com tal grau de complexidade que só a empresa que o implementou consegue explorá-lo plenamente. Os passageiros — neste caso, os utilizadores — acabam reféns das decisões do proprietário da infraestrutura, mesmo sem terem consciência disso.
Impacto na concorrência e nos utilizadores
A The Document Foundation sublinha que o ambiente de dependência se torna mais significativo quando a Microsoft altera condições de utilização ou preços. O comunicado recorda o aumento de 41 % no valor da subscrição do Microsoft 365 registado este ano, sublinhando que muitos clientes permaneceram no serviço precisamente porque os seus documentos não são facilmente editáveis noutras plataformas.
O texto também cita a transição imposta do Windows 10 para o Windows 11 como exemplo semelhante de controlo sobre o ecossistema, reiterando que governos e organizações internacionais partilham responsabilidade ao adotarem tecnologias proprietárias sem exigirem padrões abertos.
No final, a fundação faz um apelo a todos os fornecedores que desenvolvem soluções baseadas em XML: “A complexidade aprisiona; a simplicidade e a clareza libertam”. O objetivo é evitar que outros actores sigam o alegado exemplo da Microsoft e preservem a interoperabilidade como princípio fundamental.
Este episódio junta-se a um histórico de confrontos entre a The Document Foundation e a multinacional de Redmond, intensificados após o anúncio do fim do suporte ao Windows 10. A disputa centra-se na defesa de padrões abertos e na garantia de liberdade de escolha para utilizadores individuais, empresas e entidades públicas.
Para já, a Microsoft não comentou as acusações. A The Document Foundation insiste, contudo, que a discussão sobre formatos de documentos não é meramente técnica: envolve questões de concorrência, sustentabilidade de projetos de código aberto e, sobretudo, liberdade de utilização e partilha de informação.
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