Um teste prático com a picape elétrica Chevrolet Silverado EV LT Extended Range 2025 evidenciou que baterias de grande capacidade podem comprometer dois dos principais atrativos dos veículos elétricos: o baixo custo operacional e o tempo reduzido de recarga.
Bateria de 170 kWh dobra o consumo de eletricidade
O modelo avaliado traz um conjunto de baterias de 170 kWh – aproximadamente o dobro do pack utilizado em utilitários leves como o Hyundai Ioniq 5. Com peso em ordem de marcha superior a 8.500 libras (cerca de 3.860 kg), a Silverado EV precisa desse armazenamento volumoso para alcançar autonomia elevada: em medições recentes, unidades semelhantes percorreram até 450 milhas (724 km) em rodovias e superaram 200 milhas (322 km) rebocando cargas.
Entretanto, essa capacidade ampliada gerou efeitos colaterais. Durante um teste de recarga de 10% a 80% em estação de corrente contínua capaz de fornecer 350 kW, o veículo absorveu 137,66 kWh, valor que inclui perdas energéticas do processo. A tarifa vigente de US$ 0,64 por kWh em horário de pico resultou em despesa de US$ 89,09 – e ainda faltava completar os 20% restantes. Projetado para 100%, o custo ultrapassaria os US$ 100.
Comparação direta com versão a combustão
O gasto se aproxima do necessário para encher o tanque de 36 galões (136 litros) de uma Silverado 2500 a gasolina. Considerando o preço médio de US$ 3,08 por galão, a operação custaria cerca de US$ 111, porém levaria poucos minutos. No cenário elétrico, foram 40 minutos conectados ao carregador de alta potência.
A situação ideal do teste – estação efetivamente entregando 350 kW – também não reflete a realidade de toda a rede pública. Muitos pontos oferecem potências inferiores ou sofrem redução de fornecimento em momentos de demanda elevada, o que prolonga o tempo de parada e, em alguns locais, aumenta a cobrança final por quilowatt-hora.
Limitações da recarga residencial
Carregar em casa nem sempre resolve o problema. Para cumprir a promessa de oito a dez horas em tomada nível 2, a Silverado EV precisa de um carregador de 19,2 kW, que exige disjuntor de 80 amperes. Residências antigas, comuns no Meio-Oeste norte-americano, dispõem de quadro geral de 100 amperes, tornando a instalação complexa e cara. Com um carregador de 40 amperes (9 kW), mais frequente nos domicílios, o tempo de recarga dobra.
Impacto no preço final do veículo
O pack volumoso também encarece o produto. A unidade testada chega ao mercado norte-americano por aproximadamente US$ 85.000. A despesa adicional decorre não apenas do custo das células, mas de estruturas reforçadas, sistemas de arrefecimento e componentes elétricos dimensionados para alta potência.
Exemplos de eficiência com baterias menores
Casos como Lucid Air, Hyundai Ioniq 6 e BYD Seagull mostram estratégia oposta. Esses veículos priorizam aerodinâmica, baixo peso e motores de alto rendimento para extrair grande autonomia de baterias mais compactas, reduzindo o consumo médio para 5 a 6 milhas por kWh (aproximadamente 10 a 11 km/kWh) e mantendo o custo de recarga em patamar inferior.
Tendência de revisão nos projetos
Diante das críticas, a General Motors já planeja versões da Silverado EV com baterias menores e novas químicas que prometem densidade energética superior. Outras montadoras também enfrentam o dilema: Rivian oferece pacotes “Max” para R1T e R1S, enquanto a Tesla equipa a Cybertruck com módulos estimados entre 120 e 125 kWh, quase o dobro do Model Y.
No curto prazo, a adoção de sistemas híbridos ou de arquiteturas mais leves pode ser alternativa para quem necessita de picapes robustas e grande autonomia, mas não quer os custos de uma bateria de 170 kWh. Especialistas do setor avaliam que a simples ampliação de capacidade, sem considerar peso, aerodinâmica e infraestrutura de recarga, pode ampliar a percepção de que elétricos são caros e pouco práticos.
Enquanto essas soluções não chegam ao mercado, consumidores que buscam um veículo zero-emissão de grande porte devem ponderar o perfil de uso, a disponibilidade de carregadores ultra-rápidos e o custo local da eletricidade. Nesses casos, baterias menores podem oferecer melhor equilíbrio entre autonomia, preço final e despesas operacionais.
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